A venda de uma empresa é um momento transformador na vida de todo empreendedor. Para os sócios diretores, o que poderia parecer o ponto final de uma jornada muitas vezes se revela o início de um novo capítulo. Isso porque, em muitos casos, a permanência da liderança é essencial para o sucesso da transação e da continuidade do negócio. Mas o que determina essa necessidade? E como os líderes podem navegar essa fase com estratégia e propósito?
Imagine o seguinte cenário
João, fundador e CEO de uma startup de tecnologia educacional, passou anos construindo sua empresa. Após atrair a atenção de um grande grupo internacional interessado em expandir para a América Latina, chegou a hora de negociar a venda. Para João, a transação representava não apenas a consolidação de anos de trabalho árduo, mas também a oportunidade de capitalizar sua criação e poder aproveitar um pouco a vida com os frutos de seu trabalho. O que ele não esperava era o pedido do comprador: “Queremos que você permaneça no comando pelos próximos três anos.”
A princípio, João hesitou. Ele sonhava em tirar férias longas, explorar novos projetos e até mesmo investir em outros negócios. Mas o grupo deixou claro: a experiência, os relacionamentos que ele havia cultivado e sua visão de mercado eram indispensáveis para garantir que a integração fosse bem-sucedida.
Assim como no caso de João, a permanência dos executivos muitas vezes é um fator decisivo para o sucesso de uma transação. Quando um comprador adquire uma empresa, ele busca mais do que ativos tangíveis ou resultados financeiros; ele compra também a cultura, o conhecimento de mercado e o capital humano que tornam aquela empresa única. E são os líderes que detêm grande parte desse valor.
Para o grupo que adquiriu a empresa de João, havia dois objetivos claros. O primeiro era manter a estabilidade durante o período de transição. Os clientes e parceiros confiam na empresa em grande parte por causa do relacionamento construído diretamente com João e sua equipe. Um rompimento abrupto poderia causar incertezas e prejudicar o desempenho da organização. O segundo era garantir que os ambiciosos planos de expansão pudessem ser implementados. João conhecia o mercado latino-americano como ninguém, e o grupo via nele o parceiro ideal para liderar essa etapa inicial de crescimento.
Por outro lado, João percebeu que permanecer na liderança também poderia se tornar uma oportunidade de maximizar o valor obtido na venda, afinal, as suas ações têm um preço e ele como executivo tem outro preço.
Permanência no modelo de earn-out
O acordo envolvia um modelo de earn-out, no qual parte do pagamento pela venda estava atrelada ao cumprimento de metas de crescimento e faturamento nos anos seguintes. Assim, sua continuidade seria financeiramente vantajosa tanto para o comprador quanto para João. Com esta estrutura, ambos estariam alinhados e com o mesmo objetivo: tornar a empresa bem sucedida. Além disso, João teria acesso a recursos e expertise do grupo comprador, ampliando suas possibilidades de alcançar novos mercados e solidificando sua reputação como líder no setor.
A permanência após a venda, no entanto, não é apenas sobre garantir números ou alinhar interesses financeiros. É também sobre preservar a cultura e os valores que fizeram a empresa prosperar. Em muitos casos, o novo dono busca manter a identidade do negócio, e os líderes originais são os melhores embaixadores dessa essência. Eles ajudam a traduzir as expectativas do comprador para a equipe e a tranquilizar os stakeholders durante a transição.
No caso de João, os primeiros meses foram desafiadores. Ele precisou ajustar-se a uma nova dinâmica de governança, com decisões compartilhadas entre o grupo e os diretores locais - era a primeira vez que tinha um “chefe” dentro da empresa que fundou. Ao mesmo tempo, teve que gerenciar a ansiedade de sua equipe, que temia mudanças bruscas na estrutura e nos processos. Mas com o tempo, João percebeu que sua presença era essencial para construir uma ponte entre o passado e o futuro da empresa.
Três anos depois, João completou sua jornada na empresa. Ele entregou resultados que superaram as expectativas do comprador e ajudou a consolidar a operação na América Latina. Com a sensação de dever cumprido, partiu para novos projetos, mas com a certeza de que havia deixado um legado duradouro.
A permanência de executivos após a venda pode ser estratégica
Histórias como a de João mostram que a permanência de executivos após a venda pode ser desafiadora, mas também profundamente estratégica. Para os compradores, é uma forma de mitigar riscos e potencializar resultados. Para os empreendedores, é uma oportunidade de maximizar ganhos, ampliar seu impacto e consolidar seu papel como peças-chave na transição e no futuro do negócio.
Se você está negociando a venda da sua empresa e enfrenta a possibilidade de permanecer no comando, reflita sobre como essa continuidade pode agregar valor não apenas ao comprador, mas também à sua própria trajetória profissional. Afinal, liderar no pós-venda pode ser a etapa mais transformadora de toda a jornada.
Esse é um de muitos cenários que podem ocorrer ao longo de um processo de venda. Na Equus, assessoramos nossos clientes durante toda a negociação para garantir que o melhor resultado seja alcançado, buscando conciliar a maximização do valor do negócio e os desejos dos sócios com as condições necessárias para que o negócio seja concretizado.
Autor: Felipe Vasconcellos